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| Foto: Akram Khan Company, espetáculo "Vertical Road" - © Richard Haughton |
Dança de Akram Khan se destaca ao falar de espiritualidade
Em passagem rápida por São Paulo, Akram Khan Company apresentou duas excelentes produções
Religião não se discute. Porém, é fato que o assunto “Deus” se tornou inerente à humanidade. Na dança, poucos artistas ousam tocar essa questão como faz o coreógrafo Akram Khan.
Em passagem rápida por São Paulo, Akram Khan Company apresentou duas excelentes produções
Religião não se discute. Porém, é fato que o assunto “Deus” se tornou inerente à humanidade. Na dança, poucos artistas ousam tocar essa questão como faz o coreógrafo Akram Khan.
Com os espetáculos, “Vertical Road” (2010) e “Gnosis” (2009), o britânico de família indiana fala de espiritualidade sem precisar se posicionar contra ou a favor de uma religião específica.
Inspirado na filosofia Sufi, que resumidamente é um conjunto de práticas rituais realizadas com o intuito de autoconhecimento, Khan buscou a complexidade embutida nesse ambiente para transformá-lo em dança. “Vertical Road” mostra a ligação do homem com a divindade: os bailarinos fazem movimentos que
remetem ao transe, a oração, a oferenda. São imagens conhecidas até pelos incrédulos mais convictos.
remetem ao transe, a oração, a oferenda. São imagens conhecidas até pelos incrédulos mais convictos.
Um bailarino barbudo e cabeludo manipula à distância os outros bailarinos. Logo, é inevitável a citação aos profetas que passaram pela Terra. O contraponto vem quando esse mesmo intérprete também é manipulado, o que aponta a dialética: homem/divino.
O cenário, composto de belos efeitos visuais, lembra o deserto – paisagem relacionada à peregrinação espiritual – e o grupo aparece coberto por uma fina poeira que se espalha no ar quando os corpos se movem.
O desenho de luz é providencial. As tonalidades explodem como raios, alternando luzes brancas, amarelas e escuridão. Resultado: a obra ganha proporção cinematográfica.
“Gnosis” trata da mesma temática transcendental. No primeiro ato, Akram Khan, ao lado dos músicos, apresenta com virtuosidade o Kathak – dança clássica indiana.
No segundo, divide o palco com a bailarina Fang-Yi Sheu que interpreta uma mulher cega. As cenas metaforizam a condição de dependência humana, onde o crescimento pessoal pressupõe a presença do outro.
Nos dois trabalhos, os recursos cênicos são requintados e a mensagem é acessível.
Corajoso, Akram Khan assume seu ponto de vista sobre a experiência espiritual. E ilumina o que é invisível nas produções de dança contemporânea.
Avaliação: Ótimo
