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25 de out. de 2011

Crítica: "Tatyana" - Cia. de Dança Deborah Colker

Foto: Cia. de Dança Deborah Colker em "Tatyana" - © Jane Hobson

    Virtuose de Colker se mostra sem vigor ao narrar obra clássica
    Assistir um espetáculo da Companhia de Dança Deborah Colker é assitir um grupo que domina um alto nível de dificuldade técnica. O que não garante uma dramaturgia bem-sucedida. 
    “Tatyana”, a nova coreografia de Deborah Colker, é inspirada na obra “Evguêni Oniéguin”, de Aleksandr Serguéievitch Púchkin (1799 - 1837), considerado fundador da literatura russa moderna. 
    O romance trata da narrativa de Oniéguin, um jovem cosmopolita que recusa o amor de Tatyana, uma camponesa. Anos mais tarde, reencontra-a transformada em uma bela dama. Dessa vez ele se apaixona, porém ela está casada. Logo, é a vez dele ser rejeitado. 
    Qualquer semelhança com enredos de novela não é por acaso: a crônica do amor rejeitado se tornou
popular nos folhetins. 
    Presente no imaginário comum, esse tipo de narrativa parece ser de fácil compreensão. Todavia, para a
dança, contar uma história é tarefa difícil.
    Como os movimentos da dança contemporânea não se aproximam do gestual de mímica, não é simples narrar começo, meio e fim. 
    Em “Tatyana”, parece não ser o objetivo da coreógrafa criar um enredo linear. Os personagens são interpretados por vários bailarinos, representados simultaneamente no palco. Com essa multiplicidade, perde-se a possibilidade de expor o destino dos protagonistas.
    Outro agravante é a falta de diferenças nos movimentos e ritmos específicos dos bailarinos. Diferenças que poderiam apontar as características únicas de cada personagem. Em resumo, fica a cargo do figurino enfatizar a separação entre as figuras.
    Por consequência, o personagem que representa Púchkin – interpretado por Deborah Colker e também pelo ótimo bailarino Dielson Pessoa – esboça a linha dramatúrgica da peça. Mas, ainda, sem força suficiente para clarear a narrativa.
    O nível técnico dos bailarinos torna-se uma atração que deslumbra a plateia. No entanto, a beleza dos passos virtuosos se esfria ao não tocar os mais básicos sentimentos envolvidos no desencontro amoroso de Tatyana e Oniéguin. 

Avaliação: Regular