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16 de abr. de 2011

Crítica: "Ten Chi" - Pina Bausch

Folha de SP - 16 de abril de 2011

    “Ten Chi” coreografa Japão leve e risonho
Espetáculo da companhia Tanztheater Wuppertal foi criado durante estadia dos bailarinos no país, em 2004
    Em tempos em que o Japão sofre com desastres naturais, a Companhia Tanztheater Wuppertal de Pina Bausch (1940-2009) apresenta um Japão leve e risonho em “Ten Chi” – obra de 2004 que teve sua estréia agora no Brasil.
    “Ten Chi” é uma da série de coproduções que Pina fez com países diferentes. Essa, em específico, foi com a cidade japonesa de Saitama, onde o grupo realizou pesquisa de campo.
    O resultado cênico dessa pesquisa se configura como um álbum fotográfico, no qual o público pode
acompanhar as diversas impressões de cada bailarino elaboradas em coreografias e elementos que vão da fala ao objeto cênico. 
    Os clichês orientais flutuam no imaginário de todo o mundo e aqui viram matéria cênica: o quimono, o samurai, o saquê, a gueixa, as marcas famosas de aparelhos eletrônicos, entre outros, aparecem como referência direta às memórias que os bailarinos construíram durante o processo. 
    A cenografia de Peter Pabst também pontua sua descendência, pois traz à cena uma baleia que emerge do palco como de um oceano, e ainda uma chuva constante de papéis picados que ora são as flores de cerejeira, ora é a neve – ambas paisagens tipicamente japonesas.
    Mas o Japão certamente é mais do que seus clichês, e nesse trabalho a poesia vem, sobretudo, da dança, em sua maioria feita em solos. 
    Pina parece ter aberto mão, em “Ten Chi”, das cenas excessivamente coletivas que causam deleite aos olhos do espectador, sendo uma das características mais esperadas de seus espetáculos.
    Por outro lado, a atmosfera que se forma no palco é da junção de subjetividades particulares; os bailarinos tornam-se partículas conectadas por movimentos fluidos e expansivos pertencentes ao mesmo universo. Logo, as danças solos também são coletivas. 
    A concisa linguagem de dança-teatro concebida por Pina permeia todos os corpos, o que transforma o grupo em unidade, mas sem dúvida, cheia de multiplicidade, assim como o Japão que é apresentado.

Avaliação: Ótimo