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1 de abr. de 2011

Crítica: "Legend" e "Inquieto" - São Paulo Companhia de Dança

Folha de SP - 01 de abril de 2011

    O clássico e o contemporâneo da São Paulo Companhia de Dança
Com dois novos espetáculos, a cia demonstra que a multiplicidade é seu forte
    A SPCD (São Paulo Companhia de Dança) estreou dois novos espetáculos no último final de semana. “Legend” (original de 1972) de John Cranko (1927-1973) e “Inquieto” de Henrique Rodovalho, atual diretor artístico e coreógrafo da Quasar Cia. de Dança.
    “Legend” é um pas de deux neoclássico que impressiona por sua dificuldade técnica. Há momentos onde o equilíbrio entre os dois intérpretes é muito sútil, denota uma leveza que vai de encontro ao lirismo presente nos balés românticos.
    “Inquieto”, por sua vez, traz as inquietudes humanas traduzidas em movimentos articulados e
fragmentados – marca das coreografias de Rodovalho.
    Na última, a trilha sonora original de André Abujamra é composta por sons referentes ao meio caótico das grandes cidades e a cenografia de Shell Jr. cria uma cadeia de linhas construída em tempo real que delimita todos o espaço cênico. 
    A soma do movimento, música e cenografia cria o ambiente de inquietação, tipicamente urbano.
    Assistir a espetáculos tão diferentes dançados na mesma noite pela mesma cia parece mesmo algo inverossímel. Porém a SPCD faz com que esse feito venha à cena.
    Inserido em um contexto atual onde os criadores de dança investigam um modo de fazer que seja singular e que gere uma marca autoral reconhecida e atrelada à companhia ou ao coreógrafo, a SPCD, quase em contrapartida, mostra que sua marca é a versatilidade. 
    Sem um coreógrafo residente, a cia sustenta o desafio de adaptar-se às propostas dos coreógrafos convidados, e ainda, abranger em seu repertório remontagens de obras clássicas e modernas.
    É possível uma cia adaptar-se às mais diversas variações estilísticas e ao mesmo tempo criar sua própria marca autoral?
    A SPDC é jovem (nasceu em 2008) e é provável que muitas questões ainda se revelem. A hipótese é que talvez a multiplicidade seja mesmo sua marca principal. 
    Essa questão pode sim ser uma inquietação, mas o que se vê em “Legend” e “Inquieto” é a convivência serena entre o clássico e o contemporâneo.
    A SPCD consegue sem trancos traçar uma linha flexível entre os territórios distintos da dança.
Avaliação: Ótimo