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5 de nov. de 2012

Matéria: Espetáculo "Carretel"

Folha de S.Paulo - 5 de novembro de 2012

    "Carretel" aborda dor da perda a partir de um objeto simbólico
    A saudade é a premissa poética que reuniu o jornalista e psicanalista Sergio Ignacio e o coreógrafo Rubens Oliveira na direção do espetáculo de dança "Carretel", que estréia hoje em São Paulo.
    Ao se conhecerem, quando ambos dançavam "Anatomia do Desejo" (2006), do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, surgiu a afinidade que, mais tarde, resultaria em uma parceria de trabalho.
    No começo deste ano, a dupla entrou em contato com interessados em participar de uma nova montagem, muitos já haviam tido alguma experiência de dança nos espetáculos ou aulas de Bertazzo.
    Em audição para "Carretel", os diretores selecionaram 33 integrantes com idades entre 20 e 62 anos,
todos com um perfil em comum: não ter sido bailarino profissional.
    "Numa audição como essa não procuramos bailarinos, procuramos gesto, intenção, olhar e atitude. Queremos pessoas com história para contar.", diz Ignacio, em entrevista com a dupla à Folha.
    "O espetáculo foi construído a partir do sentimento de saudade de cada integrante", acrescenta Oliveira.
    Para fundamentar a pesquisa sobre saudade, escolheram um estudo do psicanalista D. W. Winnicott (1896-1971), no qual há uma releitura de um caso de Sigmund Freud (1856-1939) sobre a dor da ausência em relação direta com o objeto que a simbolize - no caso, o carretel.
    A imagem do carretel permeia todas as cenas do espetáculo. Ignacio aponta que "as sequências coreográficas são baseadas no ato de costurar: em pontos, linhas, agulhas e novelos'.
    O elenco passou por uma preparação árdua. Foram cerca de seis meses de laboratórios de dança e
conscientização corporal. Nesse processo, a experiência de vida de cada intérprete foi valorizada.
    Oliveira diz que "ouvir a história de alguém é entender o gesto que é feito por ela". E completa: "o que será visto no palco é uma história gestual autobiográfica".