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21 de mar. de 2012

Crítica: "Flutuante" - Cia Flutuante


Folha de S.Paulo - 21 de março de 2012


    Espetáculo explora de forma delicada o prazer e o erotismo
    “Flutuante” é um espetáculo de dança que nos coloca em frente a uma condição muito humana: a relação com o prazer. Como não ser explícito ao tratar de um assunto tão ligado ao erotismo? 
    É com total delicadeza que a coreógrafa Leticia Sekito, brasileira de ascendência japonesa, responde a essa pergunta.
    A Companhia Flutuante, que ela fundou, é um grupo fora dos moldes das companhias tradicionais. Seu elenco não é fixo, e as produções são diversificadas: espetáculos, intervenções e vídeos. 
    Com mais dois intérpretes, o novo trabalho surgiu inspirado nas gravuras japonesas do período Edo (1603-1868), cujo final é o momento considerado o início da era moderna no Japão.
    E, para falar do mundo de entretenimento e prazer que essas gravuras representavam, o grupo combina
uma série de cenas muito bem elaboradas entre cenário, luz, som e dança. 
    Um corpo feminino à luz de velas, a memória provocada pelo som das palavras e uma luminária vermelha parece bailar sozinha no ar. Escolhas simples que se engrandecem à medida que as cenas aguçam os sentidos do público.
    O clima sensual é alcançado por uma via não habitual, e o erótico é sugerido com sutileza. As metáforas apontam para uma concepção de sensualidade mais ampla, que pode ser traduzida como uma força pulsante de vida. 
    “Flutuante” guarda coerência com todo o percurso da artista e apresenta uma dança bem cuidada em suas escolhas estéticas. E assim, Leticia Sekito, a cada trabalho, se mostra mais madura como diretora.

Avaliação: Ótimo