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Folha de SP - 18 de maio de 2011
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“Objeto Gritante” cria poética sobre as máscaras sociais humanas
Nova coreografia da companhia Maurício de Oliveira & Siameses traz parceria com trabalho de Duda Paiva
Em sua 6º edição, o programa Artista da Casa, do Teatro de Dança, apresenta o espetáculo “Objeto Gritante” de Maurício de Oliveira & Siameses, em parceria marcante com Duda Paiva e seus bonecos de espuma.
É um trabalho que brinca com as concepções rígidas sobre identidade e as inegáveis máscaras compartilhadas no convívio social.
Logo na primeira cena; o bailarino Ditto Leite encarna o papel de uma espécie de fêmea animal indistinta. A figura andrógina, sob a luz ainda soturna do início, causa dúvidas.
“Objeto Gritante” continua sua cena enigmática trazendo à luz corpos desconstruídos e membros
alterados pelos objetos. Em sua maioria, são máscaras de rostos que se retorcem junto aos movimentos dos bailarinos.
alterados pelos objetos. Em sua maioria, são máscaras de rostos que se retorcem junto aos movimentos dos bailarinos.
Rostos elásticos com feições contundentes são transformados constantemente. E essa imagem estabelece um paralelo poético com a questão da identidade humana.
MUDANÇA DE IDENTIDADE
Em meados do século XVIII, a identidade era concebida como um tipo de essência exclusiva de cada sujeito. Pouco sofria mutações, sendo constante e racional. De lá pra cá, tal conceito sofreu abalos e crises.
Diferente da concepção anterior, sabe-se hoje que a identidade está na mistura das múltiplas informações que atravessam o sujeito durante todo o seu percurso de vida. Cria-se aqui, um tipo de subjetividade fragmentária, mutável e realizada na relação com o coletivo.
É no ambiente de máscaras múltiplas e de imprevisibilidade identitária humana que a coreografia de Maurício de Oliveira ecoa seu grito.
Maurício e Ditto dançam o feio, o velho, a mulher e o bicho. Transitam entre essas figuras, se valem das máscaras e desmascaram-se quando dançam sem nenhum objeto. Dançam com toda a musculatura, inclusive a facial.
A única falha aparece no texto falado por Oliveira a certa altura do espetáculo. É um enunciado sobre a relação dança/artista que acaba por perder a força, pois entra em disputa direta com um rinoceronte (literalmente) que toma de assalto o olhar do espectador.
A ênfase metalinguística que o texto poderia despertar é dissipada. No entanto, a coreografia madura de Oliveira unida aos excelentes bonecos de Paiva metaforizam de modo poético e eficaz a condição transitória da subjetividade humana.
Avaliação: Bom
