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17 de fev. de 2011

Crítica: "À Flor da Pele" - Balé Teatro Castro Alves


Folha de S.Paulo - 17 de fevereiro de 2011


    Coreografia de "À Flor da Pele" relembra obra de Pina Bausch
    O BTCA (Balé Teatro Castro Alves) não vem para inovar a dança contemporânea, mas coloca em cena questões importantes que devem ser repensadas.
    A companhia é formada por bailarinos com idades entre 35 e 60 anos, o que é um ponto que chama atenção.
    No Brasil, o comum de companhias de dança que tenham um número grande de bailarinos sempre foi bem diferente.
    Por muito tempo, a juventude imperou como um requisito fundamental para o profissional de dança estar no palco.
    O BTCA, prestes a completar 30 anos de existência, mostra que a idade não é empecilho para a
qualidade técnica e expressiva dos bailarinos.
    O que se vê em "À Flor da Pele", justamente, são 23 intérpretes experientes em pleno exercício artístico.
MATURIDADE
    A coreografia assinada por Ismael Ivo compõe um território fértil para a questão da maturidade.
    O espetáculo se  propõe a investigar a memória e os momentos importantes vividos por cada intérprete. O lirismo é a tônica.
    Cenas que expõem as subjetividades do homem e da mulher são dançadas com movimentos que em muito fazer recordar a dança expressionista alemã do começo do século 20 - e que teve como uma das principais expoentes a coreógrafa Pina Bausch (1940-2009).
    Talvez esse dado não seja apenas uma coincidência.
HOMENAGEM
    Momentos como uma bailarina dançando de olhos fechados ou o palco sendo coberto por uma chuva de arroz são inevitáveis referências aos olhos de quem já viu coreografias como "Café Mueller" (1978) e "Sagração da Primavera" (1975), ambas coreografias de Pina.
    A dança expressiva e o lirismo nostálgico chegam a parecer uma homenagem à grande personalidade que foi a artista alemã. Não seria demais pensar nessa possibilidade.
    Ismael Ivo, que desde 1986 vive  na Alemanha, muito bebeu na fonte das criações de lá e hoje não teria como esconder suas inspirações fazendo, mesmo que sem intenção, um lamento à morte da coreógrafa.

Avaliação: Bom